Tuesday, January 18, 2011

Geração "on"

"Estamos diante de um fenômeno de massa: o povo
brasileiro, maciçamente, anda preferindo dar nomes
terminados em ‘son’ e ‘ton’ aos filhos homens"



A seleção da coluna entrará em campo para o próximo compromisso com a seguinte formação: Glédson; Joílson, Halisson, Acleisson e Richarlyson; Vanderson, Kléberson, Glaydson e Taison; Wallyson e Keirrison. No banco de reservas ficarão Wanderson (goleiro), Jadilson, Maylson, Leanderson, Cleverson e Roberson. A seleção adversária, armada no três-cinco-dois, se apresentará com: Weverton; Adailton, Heverton e Welton; Arilton, Cleiton, Éverton, Uelliton e Neilton; Washington e Elton. Os reservas serão Dalton (goleiro), Erivelton, Hamilton, Wellington, Hélton e Jailton.
Primeiro aviso ao leitor incauto: os nomes são todos verdadeiros, de jogadores em atividade no futebol brasileiro. Segundo aviso: se os mais distraí-dos ainda não perceberam, o embate acima dá-se entre os nomes terminados em "son" contra os terminados em "ton". Nomes em "son" e "ton" hoje abundam, nos gramados, como estrelas no céu. Tempos atrás, mais característicos eram os apelidos de duas sílabas, Pelé, Didi, Dida, Pepe, Telê, alegres e infantis. Os terminados em "son" e "ton", ao contrário, são nomes severos, que evocam chefes guerreiros. Tanto eles se multiplicam que para escalar as seleções não foi preciso ir além de um restrito universo. Na grande maioria, são de jogadores dos times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, com apenas alguns poucos reforços – afinal, Weverton, goleiro do Vila Nova, de Goiás, não merecia ficar de fora, nem Acleisson, volante do Mirassol, clube do interior paulista.
A questão é: por que a pesada preferência pelos nomes em "son" e "ton"? O futebol não é um universo fechado. Ele espelha a sociedade brasileira. Mais exatamente, espelha as camadas mais populares da sociedade. O que leva a concluir que estamos diante de um fenômeno de massa: o povo brasileiro, maciçamente, anda preferindo dar nomes em "son" e "ton" aos filhos homens. Complexas e misteriosas são as razões pelas quais um nome, ou uma classe de nomes, entra ou sai de moda. É tarefa para antropólogos e sociólogos. Modestamente, enquanto se espera por mais doutas explicações, o que se pode é especular.
É de supor, em primeiro lugar, que quem pespega no filho os nomes de Wallyson ou Leanderson espera do interlocutor reação que vá além da indiferença. Afastemos desde logo, no caso do "son", ter sido ele importado dos costumes nórdicos, em que a terminação "son" (ou "sohn" – "filho", em inglês, alemão e línguas afins) identifica o filho de alguém de nome igual ao contido nas sílabas precedentes. É improvável que Leanderson signifique "filho de Leander" ou que Wallyson signifique "filho de Wally". Parece ser mais o caso de criações livres, movidas pelo gosto da invenção. Keirrison, artilheiro do Palmeiras, contou à revista Veja São Paulo que deve seu nome à preferência do pai pela letra K, combinada à admiração pelo beatle George Harrison. Keirrison tem um irmão chamado Kimarrison, de novo com K, e dessa vez homenagem do pai, roqueiro incorrigível, a Jim Morrison. Como Harrison e Morrison viraram Keirrison e Kimarrison, isso fica por conta da peculiar alquimia que rege a produção de nomes no Brasil.
Ao lado do gosto da invenção, a queda pelo estrangeirismo é outro traço que se adivinha nos pais dos "son" e dos "ton". São nomes que soam estrangeiros. Por coincidência (ou não?), as terminações em "on", tanto no inglês quanto no francês e no espanhol, correspondem ao "ão" português. Entre outros milhares de exemplos, action, em inglês e francês, e acción, em espanhol, dão em "ação" em português. Ora, o "ão" é o som mais típico da língua portuguesa, terror dos estrangeiros que o tentam imitar. Fugir do "ão", como se faz, mesmo inconscientemente, quando se opta pelo "on" é negar a língua portuguesa como nem São Pedro negou Jesus Cristo antes que o galo cantasse.
O gosto da invenção, somado à queda pelo estrangeirismo, colabora para a hipótese seguinte: a escolha dos nomes Kléberson ou Richarlyson, Welton ou Arilton, trairia o desejo de, com o fermento de toques originais e estrangeiros, prover o filho de uma personalidade forte e única. Não, ele não haverá de ser um zé qualquer, nem um joão-ninguém. A ironia desta história é que, em contraponto à tendência pelos "son" e "ton" nos estratos populares, nas classes altas vigora a tendência oposta. Lá reinam os Josés e os Joões, Antônios e Franciscos, como fazia décadas não se via. Tal qual em outros campos, um Brasil vai para um lado, o outro para a direção inversa.



Roberto Pompeu de Toledo (Colunista da Veja)

Sunday, September 21, 2008

DE NOVO

Tudo bem que o Palmeiras deu uns vacilos ontem. Não tava encaixando a marcação direito. E o ataque não estava num dia inspirado. Mas uma coisa, toda a nação rubro-negra tem que reconhecer: os caras tem um preparo físico invejável. Ninguém ali cansa de apanhar. Já são cinco derrotas em seis jogos e eles continuam insistindo. Só pode ser masoquismo. Não duvido que o Kléber tenha um chicotinho de couro e umas correntes em casa.
Já o Luxemburgo faz tudo que é plano mirabolante pra conseguir ganhar da gente. Bota trezentos atacantes, muda o esquema do time, chora para o juiz. É praticamente aquele coiote do desenho, só que numa versão com gravata e terninhos Armani. Aposto que ali no banco tem um caixote enorme da Acme, cheio de foguetes, bigornas e um manual de 300 páginas com desculpas esfarrapadas em português e portunhol.
É por isso que toda vez que a galera vem pra cá, inventa que tá com diarréia. Só podia. Tomando tanto chocolate assim, queria o que? A variedade é grande. Tem leite condensado caramelizado com flocos crocantes cobertos com um delicioso Nestlé. Ou carameeeelo, chocolate e biscoito no maior mix. Ou coooompre batom. Pior ainda só aquele chocolate de coco queimado que sempre sobra na caixa, que é o equivalente a tomar um chocolate de 3 x 0 em casa.
Quem sabe agora a gente não se anima um pouquinho e sai de Macapá. Pode até dar uma passadinha em Porto Alegre. São só uns 300.000km até lá, que é mais ou menos a distância de 13 pontos. Mas a viagem vale a pena. Garanto que não vai faltar gremista pra receber a gente com um bom churrasco. É até bom para o Sandro Goiano encontrar os amigos. E trucidar os inimigos.
Realmente, foi uma noite de imagens inacreditáveis. No jogo do Vasco lá, o Edmundo virou goleiro, e até se adiantou no pênalti. Depois saiu chorando copiosamente. Mas isso não foi nada. Inacreditável mesmo foi ver o Roger fazendo dois gols.

Saturday, August 02, 2008

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.



Carlos Drummond de Andrade

Saturday, June 14, 2008

O 1º Campeão de 2008!




O time do Sport comandado pelo Nelsinho Baptista jogou a final no Recife como um verdadeiro campeão. Tomou a iniciativa do jogo desde o primeiro minuto, como não poderia ser diferente depois do resultado do primeiro jogo. A verdade é que o Sport derrotou Inter, Palmeiras, Vasco e na final o Corinthians, enfim, todos os considerados favoritos nos jogos contra ele. E ganhou com méritos em todas as fases. Lembrando que eram times de primeira linha.

O Timão levou um gol no final do primeiro jogo e, pelo que se vê, este gol pesou muito. Mas, jamais na partida do Recife, a equipe do Mano se mostrou com capacidade para sair de campo como vencedora. A única verdadeira chance aconteceu aos 42 minutos do segundo tempo nos pés de Acosta, que preferiu driblar em vez de chutar. E perdeu!

O título está em muito boas mãos, e parabéns ao Nelsinho. Ganhar um título deste porte com todas as dificuldades tem um valor muito maior do que com os recursos que os grandes centros oferecem.

Parabéns ao Leão da Ilha do Retiro!


Qui, 12/06/08 por Junior (Ex-Flamengo e Seleção)

Wednesday, April 23, 2008

VERDADES


Não quero cópia do que eu vou escrever aqui

É tão estranho olhar do lado

E não te ver sorrir...

Não sei como estás agora...

Depois que baixei a cabeça

Fui embora...

Não obtive mais notícias tua.

E pensar que já fomos tão amigos

Nossa verdade tão nua.

Não me imaginava sem ti!

Não me imaginava

Sem ver-te sorrir.

Mas a vida é assim,

Podemos viver sem isso,

Sem ódio, sem frio, sem calor!

O que passou, marcou...

Mas passou.




Professor Ribeiro!

Tuesday, March 20, 2007

LEMBRANÇAS

Não sei o que fazer

Pra não me sentir assim.

Teu cheiro

Ainda está aqui.

Tocar-te

Foi demais pra mim.

Penso em ti

Toda a hora do dia

E minha vida, agora,

É uma verdadeira agonia.

Tu não permaneces em meu pensamento

Vivo esse tormento.

Sem saber o que esperar de ti.

Não sei o que fazer

Pra não me sentir assim.

Teu cheiro

Ainda está em mim.

E essas lembranças

Não têm fim.

Monday, October 16, 2006

Soneto de fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

(By Vinicius de Moraes)